19 dezembro 2009

Canalhas pedem desculpas

"Fernando Sarney anuncia retirada de ação contra 'Estado'."
Esta manchete, de hoje, não deixa de me causar revolta pelo alto grau de canalhice do autor da ação. Depois de vários meses da censura imposta ao principal jornal brasileiro por obra do filho de José Sarney para que seus estranhos métodos de para o sucessos político e econômico não fossem divulgados, ele faz um gesto cínico na tentativa de passar à História como se nada tivesse com a volta da censura ao País.
Canalhas são assim: costumam pedir desculpas como se estivessem arrependidos de algo, mas pretendem apenas transferir ao outro a responsabilidade do perdão. Ou seja: querem inverter os papéis, querem passar de agressor a vítima.
Na prática, sabe-se que a retirada da ação não tem efeito algum, a não ser o do jogo de cena para mudar a própria imagem.
E la nave và. A censura continua robusta como antes, o Maranhão continua espoliado pelo clã Sarney e os tribunais continuam lavando as mãos sem a coragem de discutir o mérito da questão.

23 agosto 2009

Um vencedor!

AST, 100x100cm (col.: Dra. Socorro)

Há uns poucos anos ouvi, numa entrevista de rádio, um sugestivo depoimento do pianista João Carlos Martins. Segundo contou, no dia em que Brasil e Alemanha disputavam a final da Copa do Mundo de 2002, ele participava justamente na Alemanha de um workshop com duzentos pianistas locais (algo impensável aqui). O Brasil sagrou-se campeão com dois gols de Ronaldo. Qual não foi a surpresa do pianista, quando, ao final da partida, todos os músicos presentes se levantaram para aplaudir o time da Alemanha.
Corte para a manhã de hoje. Rubens Barrichello venceu o Grande Prêmio da Europa, em Valência.
Vale um paralelismo entre esses dois fatos.
Os alemães aplaudiram de pé sua seleção pelo mérito que ela teve de chegar à final, embora não tenha se tornado campeã do mundo na ocasião.
No Brasil, porém, Rubinho é alvo de críticas pela mesma razão: não se tornou um campeão do mundo. Esquece-se que ele
integra há anos o seletíssimo clube de pilotos da Fórmula 1 e que isso é mérito exclusivo de seu talento e de sua dedicação. Vencedor na vida, aqui é tratado como perdedor.
Infelizmente, no
Brasil, o que vale é o resultado, não o esforço. Isso tem muito a ver com o nosso culto à esperteza, que louva quem tira vantagens (não importa com que meios) e se considera trouxa aquele que trabalha com seriedade e ética. Na política, isso se reflete na busca de cargos pelo caminho fácil do nepotismo, sem passar pela peneira do concurso público.
Trabalho, ora o trabalho!

19 agosto 2009

Honestidade intelectual

OST, 80x100cm

Honestidade intelectual nada tem a ver com formação acadêmica e sim com sinceridade no pensar; logo, implica ser verdadeiro consigo e com os outros. Fácil? Nunca foi. Requer coragem apenas.
Quando vejo alguém pego de calças curtas num claro episódio de desonestidade intelectual, fico me perguntando quantas vezes não terá essa mesma pessoa usado de recursos antiéticos para se projetar no meio em que vive.
Um exemplo que me intriga é o da filósofa Marilena Chauí. Em que pese o fato de ser ela uma das grandes pensadoras que há no Brasil, não me conformo com o fato de que um dia Marilena tenha aderido ao plágio. Essa postura dela é que me a faz intuir como alguém cujo pensamento está subordinado à necessidade de justificar o PT sob todo e qualquer ângulo. Seria mais honesto intelectualmente seguir o caminho inverso.
Agora, num caso também relativo à vida acadêmica, vem à luz o fato de a ministra Dilma Roussef ter incluído em seu currículo Lattes um inexistente mestrado pela Unicamp.
Que consequências mais teremos dessa desonestidade intelectual? Impossível saber. Mas que nunca se perca isso de vista.

15 agosto 2009

Traços de caráter

OST, 80x100cm

Quando se conhece o caráter de uma pessoa, torna-se maior a probabilidade de prever como ela agirá no futuro frente a determinadas situações. Os traços de caráter, embora mutáveis em sua essência, na prática se mantêm constantes.
Infelizmente, costuma-se acreditar piamente nas palavras alheias quando elas prometem "daqui para a frente não faço mais isso... ou aquilo". Na maioria das vezes, as pessoas nem sequer observam de fato qual é o caráter alheio e prefere projetar interpretações subjetivas destituídas de objetividade.

Tudo isso me ocorreu ao ler a crônica "Machado de Assis de costas para Sarney", de Ignácio de Loyola Brandão, no "Estadão" de 14 de agosto. Loyola simplesmente se deu ao trabalho de consultar uma antiga lista (de 1977) de 1.046 intelectuais que assinaram um manifesto contra a censura imposta ao Brasil pela ditadura militar, via Armando Falcão.
O nome de Sarney não estava lá -- mas, pela ausência, lá estava a marca indelével de seu caráter. Que, como eu disse acima, costuma não mudar.
Hoje, aquele Sarney está de volta repetindo o gesto ditatorial de apoio à censura à imprensa, desta vez para proteger os desmandos de seu filho.

08 agosto 2009

O homem e sua sombra


Segundo um conceito de C.G. Jung, todo homem tem um lado obscuro, ruim, de impulsos destrutivos, rejeitáveis socialmente, amorais. Trata-se, enfim, de um conjunto de aspectos negativos que o indivíduo rejeita como sendo incompatíveis com a imagem que ele tem de si mesmo e busca projetar para os outros.
Essa rejeição da sombra, entretanto, não a elimina. Ela continua existindo e muitas neuroses nascem da teimosia em não aceitar a existência desse lado obscuro que, repito, todos nós temos.
Essa lembrança me ocorreu ao me deparar com a foto acima no "Estadão" do dia 4, terça-feira.
Collor me pareceu a manifestação viva da sombra junguiana de Sarney, o lado sombrio que este sempre buscou esconder na tentativa de construir uma biografia de estadista.

04 agosto 2009

Atos falhos

Técnica mista, 80x100cm (col.: Gustavo Ribeiro)

De vez em quando, capto por aí alguns atos falhos interessantes e não há como concluir que existe uma intenção abertamente contrária àquilo que o indivíduo está dizendo.
Um mês e pouco atrás, Ana Maria Braga recebeu em seu programa uma artista de teatro que a convidou a assistir à peça que estava encenando. Ana Maria prometeu que iria e se saiu com esta: "Ah, não posso deixar de não ir".
De tão simpática, a frase tapeia quem a ouve e poucos percebem que ela afirmou categoricamente que não iria. Mas isso faz parte das chamadas mentiras sociais e, no fundo, não tem importância alguma.
Já ontem a coisa foi diferente. Romero Jucá, peemedebista da tropa de choque do godfather Sarney, fingiu trabalhar pela pacificação dos ânimos afirmando:
"Se estamos trabalhando para desidratar a crise, não há como jogar mais combustão".
Ora, se a crise for desidratada, isto é, perder água, se tornará mais combustível ainda.


02 agosto 2009

A volta da censura

OST, 70x90cm

A volta de censura é um risco permanente.
Por um lado, há um sem-número de políticos que aspiram por ela como um recurso eficaz contra a divulgação de seus desmandos.
Por outro, há a parcela covarde da sociedade que acredita piamente em medidas ditatoriais como solução para os problemas do país.

Desta vez, nem precisamos nos deslocar até algum país em que a regra são medidas de exceção. Aqui temos a trupe Sarney, aquela que em pouco mais de quatro décadas fez do Maranhão um estado com um dos piores (senão o pior) índice de desenvolvimento humano do Brasil.
Agora o desembargador Dácio Vieira, amigo da família, colocou o conceito de amizade acima da ética e criou a censura prévia para o "Estadão". Vai ser derrotado tão logo o primeiro recurso seja julgado.
Infelizmente esse tipo de derrota não serve de lição a ninguém.
Nosso Congresso continuará cheio de políticos com pendores ditatoriais.

28 julho 2009

Velhos poemas

OST, 70x90cm

Houve um tempo em que me pus a escrever versos. Ainda acho que tinha algum talento, mas não investi muita energia nisso. Preferi outros caminhos. E guardei os poucos versos que fiz. Aí vai um deles:

PARADOXO

Recurvo,
o espelho concentra brilhos
e projeta
suas próprias verdades.

Côncavos.
Convexos.
A distorção como norma.

Um narcisista
definitivamente
não se enxerga.


22 julho 2009

O mestre

Óleo sobre painel, 70x90cm

Paulo Gaudencio, meu velho mestre, define bem as quatro atitudes que alguém pode tomar diante de algo que provoca medo: coragem, covardia, prudência e irresponsabilidade. Gostei muito da definição e a usei num curso que estou dando na Fundação ACL. Fica aqui o registro:
CORAGEM - O indivíduo compara as próprias forças com aquilo que o amedronta, vê que dá para enfrentar... e enfrenta!
COVARDIA - O indivíduo compara as próprias forças com aquilo que o amedronta, vê que dá para enfrentar... e foge!
PRUDÊNCIA - O indivíduo compara as próprias forças com aquilo que o amedronta, vê que não dá para enfrentar... e foge!
IRRESPONSABILIDADE - O indivíduo compara as próprias forças com aquilo que o amedronta, vê que não dá para enfrentar... e mesmo assim enfrenta. (Pessoas cegas por alguma paixão, narcisismo ou ambição podem agir assim e acabam se dando mal.)

17 julho 2009

Um homem comum

OST, 30x40cm

Romário deixou de pagar no devido tempo a pensão dos dois filhos do primeiro casamento e passou a noite na prisão. Nem se permitiu que um amigo levasse a ele umas iguarias para comer. É um homem comum.

"Sarney não é um homem comum", declarou Lula, só faltando completar: "Está acima das leis".

12 julho 2009

A noção do crime

OST, 80x80cm

Impressiona constatar como os políticos em geral não admitem nunca a possibilidade de que possam ter cometido um crime ao se apropriarem do bem público como se fosse particular.
Para eles, não existe a noção do crime e toda punição é simplesmente injusta. Isso se houvesse punição. Não há!
Desta vez, quem está na berlinda é Sarney. Amanhã será outro. Depois outro... Todos se safarão.

10 julho 2009

Ronaldos

OST, 80x100cm

Kaká foi recebido na semana passada com enorme festa pela torcida do Real Madri. Mas em seguida foi destronado por uma festa maior para Ronaldo (o Cristiano).
Aqui no Brasil, Ronaldo (o corinthiano) também passou Kaká para trás como o jogador mais querido do Brasil.

Tem importância, não, Kaká. Para a bispa Sônia, você será sempre o maior.

03 julho 2009

Carlos Gomes

AST, 80x100cm



A imagem que eu tinha do autor de "O Guarani", Carlos Gomes, parecia-me a de um senhor da aristocracia branca da época. Vasta cabeleira, fartos bigodes.

No entanto, venho a saber recentemente que ele era mulato. Ou seja: historicamente, os ilustradores embranqueceram Carlos Gomes e fizeram o mesmo com muitas outras personalidades do nosso passado.

A História costuma entrelaçar fatos e preconceitos. E assim vivemos: desinformados.




30 junho 2009

Expressões do inconsciente

OST, 30x40cm


Tenho comigo a convicção de que o homem manifesta seus símbolos inconscientes em tudo aquilo que produz. A produção artística naturalmente não foge à regra.

Mas como os símbolos são muito pessoais e são inconscientes, só uma observação atenta poderá descobrir nas repetições alguns indícios de significado latente. Mas é arriscado interpretar.

Num livro de José Ângelo Gaiarsa que li há tempos (era uma produção meio artesanal e nem em sebo se acha mais), ele observou, nas pinturas de Dalí, indícios das angústias do pintor. Então previu que, se Gala morresse antes dele, Dalí se fecharia a tudo e a todos até a morte. Foi exatamente o que aconteceu.


29 junho 2009

Releitura

OST, 50x70cm (ano: 1990)


Os cães ladram.
E a caravana:
- Passa!


28 junho 2009

Do além

OST, 70x90cm


Michael Jackson não morreu. Formou dupla com Elvis Presley.

25 junho 2009

Uvi strella

OST, 80x100cm

Para quem não conhece Juó Bananére, inspirador do nome do blog, aí vai um exemplo de sua obra, uma paródia do célebre soneto de Olavo Bilac:

Uvi strella

Che scuitá strella, nê meia strella!
Vucê stá maluco e io ti diró intanto,
Chi p'ra iscuitalas moltas veiz livanto,
I vô dá una spiada na gianella.

I passo as notte acunversando c'o ela.
Inguante che as outra lá d'un canto
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto
Nasce. Oglio p'ru ceu: — Cadê strella!?

Direis intó: Ó migno inlustre amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quando illas viero acunversá cuntigo?

E io ti diró: - Studi p'ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
É capaiz di intendê istras strella.

24 junho 2009

O que significa?

AST, 80x100cm (col.: Aya, Quimipel)

Um conhecido meu, ao olhar certa vez para uma tela abstrata que eu havia feito, me perguntou: "O que isso significa?" Como era alguém com quem eu podia fazer brincadeiras, respondi: "Significa que você não entendeu".
A maioria das pessoas está habituada a procurar nas telas o desenho de algo e se confunde diante do abstrato. Inclusive, há excelentes artistas também que sempre se apoiam na reprodução de algo já visto, seja paisagem, objeto, gente, o que for.
Não há nada errado nesse ou naquele modo de ser. Ruim é quando se tenta impingir ao outro a própria receita de arte. No fundo, isso significa um caminho de mão inversa: em vez de ser o artista o responsável pela criação da obra de arte, é a obra de arte (comprimida dentro de conceitos rígidos) que passa a determinar quem é artista.
Essa confusão já esteve muito presente na questão da fotografia, com a velha pergunta se fotografia pode ser obra de arte.

23 junho 2009

Ao ar livre

AST, 80x100cm (col.: Genessy, Geartestúdio)

Prazeroso mesmo foi a feitura desta tela. Ao ar livre, debaixo de um sol fortíssimo, no sítio de minha cunhada Célia Maria. As manchas da tinta acrílica secavam muito rapidamente e ficava fácil fazer as velaturas (camada fina de tinta, deixando transparecer a de baixo). Marquei os campos da tela com durex e, para eliminar traços de pincel, usei jornal amassado como bolas de papel.

22 junho 2009

Fora de aula


OST, 40x50cm


Duas pequenas telas, num estilo diferente das anteriores: resultado de um trabalho fora da sala de aula. Tudo em busca de novos caminhos, ora acertando, ora errando.

19 junho 2009

Fazendo arte

O/S/T 70x90cm

Quando comprei o livro "Faça arte", de Francesc Petit, minha expectativa era de encontrar ali uma visão aberta do que seja arte e que, como pretende o autor, estimulasse as pessoas a produzirem arte. Mas o primeiro parágrafo me deu certa decepção.

Aí vai ele,
ipsis litteris: "Toda pessoa interessada em escrever um livro sobre arte imagina que é necessário, em primeiro lugar, vestir a 'máscara' de intelectual, mostrar que é um expert no assunto usando citações idiotas e palavras difíceis".

Mas não seja por isso que vou deixar de ler o livro. A gente sempre tem muito a aprender.

17 junho 2009

"Faça arte"

O/S/T 70x90cm


Estou lendo dois livros, no momento: "Faça arte", de Francesc Petit, e "A ciência de Leonardo da Vinci", de Fritjof Capra. E há alguns esperando na fila. Não sou devorador de livros, como às vezes se tem impressão (não sei por quê).

Jornal, sim, leio todo dia como se cumprisse um ritual matinal. Antigamente, minha atenção era mais voltada para o caderno de cultura. Hoje, eu me dedico mais às páginas de política. Às vezes, parece que faço isso só para me irritar. A sucessão de desmandos no Congresso é de arrepiar e a cada escândalo sucede uma série de providências que visam na prática jogar areia nos olhos da gente.
Depois volto ao "Faça arte", de Petit.

14 junho 2009

Bananere por quê?

O/S/T, 70x90cm

O nome do blog, se não sabem, inspira-se em Juó Bananére. Esse era o pseudônimo de Alexandre Marcondes Machado, poeta satírico que
se autodenominava Candidato à Gademia Baolista de Letras. Escreveu "La Divina Increnca", editada em 1915. O resto está no Google, certo!

Quanto ao Da Vinci... bem, esse vem do título de um livro de humor que escrevi e não publiquei: "Da Vinci e o Código Bananére".

E aí vai, acima, mais uma pintura de minha nova fase. Bem diferente de tudo o que fiz até agora.

13 junho 2009

Um novo caminho

O/S/T, 80x100cm



Pintor autodidata, gosto mesmo é da pintura abstrata. E sou grande admirador da obra de Tomie Ohtake, Manabu Mabe e Kazuo Wakabayashi. Com certeza há muito da cultura oriental em seus trabalhos, mas isso não dá para a gente avaliar.

Acabo de iniciar um curso de pintura contemporânea na Casa do Restaurador. É um novo caminho e estou aprendendo coisas elementares... como a necessidade de limpar o pincel frequentemente, para não "sujar" o trabalho.

Acima, meu primeiro trabalho em sala de aula.