Leitor assíduo que sou das crônicas
de Luís Fernando Veríssimo, sempre uma referência na arte de bem escrever, eis
que me surpreendo pela forma e conteúdo adotados na crônica “Os resistentes”,
publicada nesta quinta-feira no “Estadão”. Tenho a impressão de se tratar de
obra de algum ghost writer contratado
de última hora para finalizar esse compromisso do autor, envolvido talvez em outros
de urgência maior.
Algumas expressões usadas, como “digamos”
e “por assim dizer”, parecem não condizer com sua linguagem habitual.
Ao falar de “músicas galopantes”, vem
citada a “introdução da Cavalleria
Rusticana”. Não vejo nada de galopante nessa música. Não estaria Luís
Fernando Veríssimo talvez se referindo ali à abertura de Cavalaria Ligeira, de Franz von Suppé?
Mas o que mais me chamou a atenção
foi o emprego do pronome “você”. Já manifestei aqui minha particular
ojeriza por esse emprego indiscriminado, na linguagem diária, em que o “você” tanto pode significar
“eu”, como “nós”, “todo mundo”, “ele”, “eles”, “alguém” ou até mesmo “você”.
Não o havia encontrado ainda em Luís Fernando Veríssimo e, por essa mesma
razão, já identificara como apócritos muitos textos atribuídos a ele na internet.
Talvez o autor venha buscando assimilar o linguajar
atual. Atualizar-se é muito bom. Mas isso teria que acontecer justamente num texto
em que ele mostra, “por assim dizer”, certa repulsa ao celular?Fico com a hipótese de um ghost writer finalizando rascunho.