03 maio 2012

Uma (pequena) decepção


Leitor assíduo que sou das crônicas de Luís Fernando Veríssimo, sempre uma referência na arte de bem escrever, eis que me surpreendo pela forma e conteúdo adotados na crônica “Os resistentes”, publicada nesta quinta-feira no “Estadão”. Tenho a impressão de se tratar de obra de algum ghost writer contratado de última hora para finalizar esse compromisso do autor, envolvido talvez em outros de urgência maior.
Algumas expressões usadas, como “digamos” e “por assim dizer”, parecem não condizer com sua linguagem habitual.
Ao falar de “músicas galopantes”, vem citada a “introdução da Cavalleria Rusticana”. Não vejo nada de galopante nessa música. Não estaria Luís Fernando Veríssimo talvez se referindo ali à abertura de Cavalaria Ligeira, de Franz von Suppé?
Mas o que mais me chamou a atenção foi o emprego do pronome “você”. Já manifestei aqui minha particular ojeriza por esse emprego indiscriminado, na linguagem diária, em que o “você” tanto pode significar “eu”, como “nós”, “todo mundo”, “ele”, “eles”, “alguém” ou até mesmo “você”. Não o havia encontrado ainda em Luís Fernando Veríssimo e, por essa mesma razão, já identificara como apócritos muitos textos atribuídos a ele na internet.
Talvez o autor venha buscando assimilar o linguajar atual. Atualizar-se é muito bom. Mas isso teria que acontecer justamente num texto em que ele mostra, “por assim dizer”, certa repulsa ao celular?
Fico com a hipótese de um ghost writer finalizando rascunho.

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