11 abril 2014

O professor e a popozuda



Uma recente prova de filosofia de uma escola do Distrito Federal incluiu a seguinte questão (ipsis litteris):
“11 – Segundo a grande pensadora contemporânea Walesca Popozuda, se bater de frente:
a)       É só tiro, porrada e bomba
b)      É só beijinho no ombro
c)       É Recalque
d)      É vida longa”.
A explicação dada ao jornal Correio Braziliense pelo autor da questão já por si mesma é deplorável. Diz ele, segundo a reportagem, que “o primeiro objetivo era criar uma polêmica com a imprensa”. Eu imaginava que a primeira missão de um professor fosse educar. Aqui não! Parece que o objetivo da prova foi atrair holofotes sobre o professor. A educação que ficasse em segundo plano. Ele deve ser muito popular mesmo, porque “os estudantes entenderam a sua intenção”.
O professor prossegue com um juízo de valor que é de fazer chorar. Diz ele, na reportagem: “Qualquer ser humano que consegue formar um conceito é um pensador. Ela tem formado conceitos, portanto, Valesca é uma pensadora”. Sim, a partir desta premissa, todo ser humano é um pensador. Mas ele fez uma distinção, mesmo assim, pois escreveu “grande pensadora”! Faltou seriedade ao escrever a questão e ao justificá-la!
O professor confundiu bordão (“beijinho no ombro”) criado por equipes de marketing com pensamento filosófico.
Outro aspecto pouco lembrado, na prova de filosofia, é o fato de a questão citada ser de múltipla escolha. Ou seja, não exige reflexão (indispensável em toda aula de filosofia), mas simples memorização... e memorização de uma absoluta banalidade.
A televisão não deixou por menos: toda reportagem sobre a tal prova dedicava mais preciosos segundos a mostrar clipes da “pensadora” de plantão do que a discutir o problema da educação.
Sinceramente, acredito que o professor da citada prova seja uma pessoa competente e bem intencionada. Mas não teve a humildade suficiente de reconhecer a superficialidade do que fez e buscou justificativas que agradaram a alguns seguidores.
Dou aulas para crianças de sétima e oitava séries e fico abismado como muitas delas não sabem ainda nem escrever o próprio nome. É um retrato mais grave dos problemas que temos. A educação de modo geral vai por ladeira abaixo, a ponto de uma bobagem como a questão acima ser defendida por muitos como prova de modernidade do ensino. O incidente é apenas sintoma de um mal maior, a péssima qualidade da educação no País, mal tão banalizado que já foge à percepção em geral.
Tudo bem, logo mais o Brasil terá Copa e seremos todos felizes ─ principalmente os alunos, dispensados de comparecer às aulas nos dias de jogo do Brasil. Afinal, ninguém é de ferro e a educação pode esperar!