Uma recente
prova de filosofia de uma escola do Distrito Federal incluiu a seguinte questão
(ipsis litteris):
“11 – Segundo a
grande pensadora contemporânea Walesca Popozuda, se bater de frente:
a)
É só tiro, porrada e bomba
b)
É só beijinho no ombro
c)
É Recalque
d)
É vida longa”.
A explicação
dada ao jornal Correio Braziliense pelo autor da questão já por si mesma é
deplorável. Diz ele, segundo a reportagem, que “o primeiro objetivo era criar
uma polêmica com a imprensa”. Eu imaginava que a primeira missão de um
professor fosse educar. Aqui não! Parece que o objetivo da prova foi atrair
holofotes sobre o professor. A educação que ficasse em segundo plano. Ele deve
ser muito popular mesmo, porque “os estudantes entenderam a sua intenção”.
O
professor prossegue com um juízo de valor que é de fazer chorar. Diz ele, na
reportagem: “Qualquer ser humano que consegue formar um conceito é um pensador.
Ela tem formado conceitos, portanto, Valesca é uma pensadora”. Sim, a partir
desta premissa, todo ser humano é um pensador. Mas ele fez uma distinção, mesmo
assim, pois escreveu “grande pensadora”! Faltou seriedade ao escrever a questão
e ao justificá-la!
O professor confundiu
bordão (“beijinho no ombro”) criado por equipes de marketing com pensamento filosófico.
Outro aspecto pouco
lembrado, na prova de filosofia, é o fato de a questão citada ser de múltipla
escolha. Ou seja, não exige reflexão (indispensável em toda aula de filosofia),
mas simples memorização... e memorização de uma absoluta banalidade.
A televisão não
deixou por menos: toda reportagem sobre a tal prova dedicava mais preciosos
segundos a mostrar clipes da “pensadora” de plantão do que a discutir o
problema da educação.
Sinceramente,
acredito que o professor da citada prova seja uma pessoa competente e bem
intencionada. Mas não teve a humildade suficiente de reconhecer a
superficialidade do que fez e buscou justificativas que agradaram a alguns
seguidores.
Dou aulas para
crianças de sétima e oitava séries e fico abismado como muitas delas não sabem ainda
nem escrever o próprio nome. É um retrato mais grave dos problemas que temos. A
educação de modo geral vai por ladeira abaixo, a ponto de uma bobagem como a
questão acima ser defendida por muitos como prova de modernidade do ensino. O
incidente é apenas sintoma de um mal maior, a péssima qualidade da educação no
País, mal tão banalizado que já foge à percepção em geral.
Tudo bem, logo
mais o Brasil terá Copa e seremos todos felizes ─ principalmente os alunos,
dispensados de comparecer às aulas nos dias de jogo do Brasil. Afinal, ninguém
é de ferro e a educação pode esperar!
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