27 julho 2014

Os menino pega o peixe

Sempre que leio sobre propostas de simplificação da Língua Portuguesa, acho que elas estão imbuídas de segunda intenção. Os proponentes, ao dizerem uma coisa, pretendem na verdade colher outra – mais poder, muito provavelmente.
No Senado, há um grupo de trabalho que quer mudar o recente Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa com o objetivo de tornar o idioma “claro e acessível a todos”. De duas, uma: ou os integrantes do grupo de trabalho não leram o Acordo ou não o entenderam. Se não o leram, que o leiam de ponta a ponta. Se não o entenderam, que voltem aos bancos de escola. Mas o mais provável mesmo é que estejam a serviço de segundas intenções. Seria possível  apenas para tomar um exemplo  tornar “acessível a todos” uma argumentação de ministro do Supremo Tribunal Federal? Não, simplesmente porque seu vocabulário é técnico e cada termo empregado tem um significado preciso. Nem poderia ser diferente. 
Muita gente também não consegue entender um parágrafo com mais de três linhas porque o considera confuso. Ora, confuso é o leitor, não o parágrafo.
O tal grupo de trabalho no Senado defende ainda “a necessidade de uma língua mais abrangente e democrática que promova a inclusão social”. Isso me soa como um grande contrassenso: língua mais abrangente é exatamente aquela com vocabulário mais rico e que, por isso mesmo, consegue abranger um universo maior de ideias.
Um dos defensores da simplificação ortográfica argumenta que ela “é a porta para a eliminação do analfabetismo”. Por mim, a porta para a eliminação do analfabetismo é pura e simplesmente... a alfabetização. O resto vem depois. Não há necessidade de empobrecer o idioma com simplificações de qualquer natureza, se o objetivo é alfabetizar.


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