Sempre que leio sobre propostas de
simplificação da Língua Portuguesa, acho que elas estão imbuídas de
segunda intenção. Os proponentes, ao dizerem uma coisa, pretendem na verdade colher
outra – mais poder, muito provavelmente.
No Senado, há um grupo de trabalho
que quer mudar o recente Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa com o objetivo de
tornar o idioma “claro e acessível a todos”. De duas, uma: ou os integrantes do
grupo de trabalho não leram o Acordo ou não o entenderam. Se não o leram, que o
leiam de ponta a ponta. Se não o entenderam, que voltem aos bancos de escola. Mas o mais provável mesmo é que estejam a serviço de segundas intenções. Seria
possível – apenas para tomar um exemplo – tornar “acessível a todos” uma argumentação de ministro
do Supremo Tribunal Federal? Não, simplesmente porque seu vocabulário é técnico
e cada termo empregado tem um significado preciso. Nem poderia ser diferente.
Muita
gente também não consegue entender um parágrafo com mais de três linhas porque
o considera confuso. Ora, confuso é o leitor, não o parágrafo.
O tal grupo de trabalho no Senado
defende ainda “a necessidade de uma língua mais abrangente e democrática que
promova a inclusão social”. Isso me soa como um grande contrassenso: língua
mais abrangente é exatamente aquela com vocabulário mais rico e que, por isso
mesmo, consegue abranger um universo
maior de ideias.
Um dos defensores da simplificação ortográfica
argumenta que ela “é a porta para a eliminação do analfabetismo”. Por mim, a
porta para a eliminação do analfabetismo é pura e simplesmente... a alfabetização.
O resto vem depois. Não há necessidade de empobrecer o idioma com
simplificações de qualquer natureza, se o objetivo é alfabetizar.
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